"Coletei curioso material sobre uma lenda de vampiro
em formação, o que parece desusadamente interessante.
Circulam na Índia muitas lendas sobre uma certa
vampira inglesa que dizem comer carne crua e beber sangue humano sempre que
possível. É verdadeira essa história ? será apenas mais uma das histórias
sangrentas difundidas por agitadores antibritânico (como o horror dos bebês
belgas da primeira guerra mundial) ? A verdade está no meio termo. Constitui um
dos exemplos mais clássicos de formação de uma lenda que jamais
encontrei.
Uma viuva inglesa, cujo marido foi
morto em 1916, vivia em Bombaim e passava a estação quente nas montanhas. Diz-se
ter sido ela de aparência perfeitamente normal. A única coisa que parecia marcar
sua atitude de vida era a convicção de que era irresistível ao sexo oposto. E
mesmo isso não é inusitado.
Um marajá que estava passando o ano na
mesma estação de montanha tinha o hábito de dar festas magníficas. Uma noite,
depois desse divertimento, essa mulher (sra W) e uma amiga (sra. S.) estavam
voltando para casa de riquixá. O riquixá que ia na frente delas havia capotado
nas pedras, ao virar uma esquina muito depressa. Várias pessoas ficaram feridas.
As duas mulheres pararam seu riquixá e foram ver se podiam ajudar em algo.
Note-se que nenhuma das duas havia sido acidentada ou ferida de alguma
forma.
Ao voltarem ao seu hotel, a sra. S.
notou que a boca de sua amiga estava coberta de sangue. Depois circulou a
história de que a sra. W. tinha sugado o sangue de uma das vítimas do acidente:
ela era uma vampira. Ela morreu alguns meses depois e assim a lenda continuou,
cresceu e provavelmente continuará a crescer.
Entretanto casualmente encontrei a sra.
S. e perguntei o que sabia de toda a história. Aqui está sua
versão:
Perguntei à sra. W., naquela mesma
noite, por que havia sangue em seu rosto. Ela primeiro me disse que era de uma
das vítimas e que tinha espirrado em seu rosto no acidente.
Três dias depois, porém, quando
circulava o rumor de que era vampira - contado por algum dos sobreviventes do
acidente e não por mim - ela me procurou para "confessar" que ia voltar à
Inglaterra para tratamento.
Perguntei-lhe se ela era vampira e ela
disse que não. A verdade é que, quando criança, ela tinha sofrido de uma doença
e tinha de comer sanduíches de carne crua. Ela se acostumou tanto com isso que
nunca comia carne cozida. Seu médico via isso como um estado psicológico mais ou
menos inofensivo. E assim continuou ela com a dieta. Ao ir para a Índia, ela
descobriu que era difícil conseguir carne crua, apesar de sentir muita vontade
e, finalmente, ela conseguiu arranjar fornecedor. Mas ela se "controlava", tanto
quanto possível. Na noite do acidente, ela me contou que não comia carne crua há
semanas e que, ao se curvar sobre um ferido, aquilo foi demais para ela e então
encostou seu rosto no dele como para beija-lo. Um indiano que estava presente,
conhecendo talvez o seu gosto por carne sangrenta, deu início aos
rumores." (esta história é veridica)
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